DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Um pé de mexerica quase no meu quintal

O vizinho de fundo tem um pomar repleto de espécies diversas e, no final do interminável terreno, um pé de mexerica bisbilhotando no meu muro. A árvore, posso chamá-la de generosa ou intrometida, como alguém que se apóia com a ponta dos pés do lado de lá e se joga debruçada a me observar, do lado de cá – o que seria muita pretensão minha.
De vez em quando eu puxo uma folha e amasso o cheiro dela nas mãos, e não sei se por vingança ou birra, fixa aquele perfume na pele de um jeito que me faz lembrar de sua personalidade cítrica durante horas a fio.
A culinária é uma parceria. Os ingredientes entram com sua riqueza de sabor, cor e textura. E cabe a nós, meros dependentes, explorarmos essas divindades – o nosso maná - com o talento e os sentidos do olfato, paladar, tato e visão. Audição também, como descreveu Nina Horta em sua coluna sobre os sons das panelas e suas ebulições.
Quando a árvore deu frutos, alaranjados como o sol poente, imaginei que da polpa poderia ser feito um tacho de compota de mexerica caipira e de sua casca, lascas confitadas e crispadas para acompanhar um cafezinho passado na hora ou ainda, para decorar uma mousse de capuccino com chocolate branco.

Foto: Regina Bui

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