DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

sábado, 22 de agosto de 2009

O polvo e o caminhão de mudanças


Comprei um polvo no susto. Estava lindo e fresco. Um quilo e novecentas gramas de tentáculos com aquela cabeça imensa de alien. Duas possibilidades de prepará-lo: ou hoje na casa da Carô, que nos convidou para um fim de tarde, ou ontem, como petisco de saideira daqui de casa, numa festinha de despedida que não rolou de tanta preguiça.
Eu explico: Eu e Tati estamos de mudança. De quase meio-de-mato para definitivamente-meio-do-mato. Na sexta que vem, a esta hora, estaremos debaixo de outro teto.
E o polvo vai parar nas panelas da Carô. Hoje mesmo. Hoje mesminho. E sem segredos: nada de ficar batendo no coitado. Deixe-o cozinhar por nove minutos na panela de pressão com água, cebola e alho. Depois é só inventar uma salada portuguesa com batatas ou uma caldeirada de frutos do mar, um arroz de forno, um risotto italiano, carpaccio, canapé, tapas, guisadinho, sopa e por aí vai. Tudo de polvo!
Bem, eu preciso de uns quinze dias. Sete e meio para encaixotar e sete e meio para desencaixotar tudo e também resolver as questões da internet - porque na casa nova do mato, fiquei sabendo que a conexão será através de rádio (!).
Então pelas minhas contas, no dia 4 de setembro estarei de volta, querido leitor! Só em setembro. Até lá!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O paraíso

O moribundo em seu leito lamentava a vida equivocada que tecera durante os anos de sua existência. Ainda lhe restava um fiozinho de fôlego, que poderia durar um piscar lento de olhos, ou quem sabe, o tempo de assar um boi no rolete. Precisava achar uma solução para os erros, a burrice, a imaturidade e a incompetência que rotularam sua história. Mesmo sendo de bom coração, não se contentava por não ter conseguido sequer construir uma pilha de dois tijolos. Sentia-se um ninguém, uma mancha de óleo de batatas fritas num córrego límpido. Por alguns momentos tentava aceitar o papel de desgraçado que lhe fora designado, como acontece no universo teatral, mas nem convencido era de que o havia interpretado com louvores. O perfeito desgraçado. Um desgraçado bem sucedido. Nem isso. Desanimado, voltava à estaca zero e virava-se de lado, mas o corpo não o obedecia. Ah, se pudesse voltar e desculpar-se com quem encontrasse pela frente. Se pudesse, tentaria outros caminhos, alinharia os passos ou se esconderia num canto escuro para nunca mais atrapalhar o mundo.
Se pudesse voltar de verdade, acabaria com a vida no exato momento do parto - aproveitaria a oportunidade de um cordão umbilical e o enrolaria todinho em seu pescoço, muito bem apertadinho. Então pronto. Achada a solução, decidiu que finalmente podia morrer. E respirou aliviado. O paraíso era agora uma viagem ao passado para tornar-se novamente um embrião. Só precisava de um último sanduíche de mortadela

sábado, 15 de agosto de 2009

Gripe suína - como evitar

Por Dr. Marcio Bontempo, Médico Sanitarista
Press release: O médico Marcio Bontempo (CRM-DF 15458), especialista em Saúde Pública e naturopata, alerta como as pessoas adquirem a gripe suína (Influenza A - H1N1) e mostra como preveni-la através da alimentação, de produtos naturais e biológicos e dá outras dicas, além dos procedimentos de praxe.
Além das recomendações das autoridades sanitárias, como lavar as mãos com frequência, etc, existem providências que devem ser lembradas, ou conhecidas que, infelizmente, não fazem parte dos cuidados necessários, sendo que, muitos deles, são mais importantes do que as orientações oficiais. Primeiramente, tanto profissionais de saúde quanto pessoas comuns, devem saber que é necessário atuar no sentido de se possuir um sistema imunológico bem forte. Percebo que absolutamente nada está se fazendo nessa direção, de uma forma que se espalha o terror de uma nova doença, mas não se tomam as providências necessárias para reforçar o mecanismo de defesa do organismo da população, permitindo assim que todos estejam expostos à virose em questão. Por que as pessoas adquirem mesmo a gripe comum e o que fazer para fortalecer as defesas?
Para começar, é necessário saber O QUE ENFRAQUECE o nosso sistema imunológico, e isso não é divulgado (ou sabido?) pelas autoridades sanitárias. Sabe-se, cientificamente, que todos os vírus se beneficiam e se desenvolvem mais facilmente em ambientes orgânicos mais ácidos e, obviamente, quando o sistema imunológico está enfraquecido. E o que faz com que nosso ambiente sanguíneo fique mais ácido e o que diminui a força das nossas defesas? São os alimentos industrializados que tendem a criar e a manter um ambiente sanguíneo mais ácido.
Recomenda-se, portanto, evitar estes alimentos substituindo-os, sendo que esta abstenção já significa um grande passo para a prevenção de qualquer gripe e de muitas doenças.
Há alimentos particularmente úteis para reforçar a nossa imunidade, tais como o arroz integral, os subprodutos da soja (tofu, leite de soja líquido, misso), a aveia (rica em beta-glucana, um grande estimulador do mecanismo de defesa), o inhame, as verduras em geral, frutas frescas, a semente de linhaça, o gengibre, o alho, a cebola e outros.
Além das medidas anteriores, cientificamente sugere-se o seguinte:
O alho é rico em alicina, uma substância ativa que possui ação antiviral reconhecida, além de mais de uma dezena de outros componentes imunoestimulantes. Basta ingerir diariamente 3 a 5 dentes de alho cru picado, com os alimentos ou engolidos com água ou suco. Há o inconveniente do hálito, mas é passageiro, e mais vale a boa saúde do que o comentário alheio. Existem também suplementos à base de alho que não exalam odor, mas são caros. O óleo de alho em cápsula ou o alho em comprimidos não produzem o mesmo efeito do alho cru. O alho também é útil para evitar ou tratar uma grande quantidade de doenças. O problema do alho para crianças é a dificuldade para ingerir, mas com habilidade tudo é possível.
A própolis é reconhecida cientificamente como um antibiótico natural incluindo uma forte ação antiviral, tanto em situações de infecção quanto como para prevenção. Foram reconhecidos mais de 100 principios medicinais ativos da própolis. Deve-se usar o extrato alcoólico de própolis a 30%, na quantidade de 30 gotas, 3 a 4 vezes ao dia, em meio copo de água. Para crianças pequenas, metade da dose (lactentes e bebês, seguir orientação do pediatra). Pode-se colocar um pouco de mel para adoçar e reduzir o sabor e efeito da própolis na boca.
O gengibre é um alimento funcional reconhecido hoje cientificamente por seus poderosos princípios ativos. Foram isolados cerca de 25 substâncias, entre elas as famosas gengiberáceas, de grande ação estimulante do sistema de defesa do organismo e ação antiviral. Basta beber chá de gengibre fresco, forte, uma xícara 3 vezes ao dia, morno ou quente e sem adoçar.
O organismo e as células de defesa são regidos pela ação do sistema nervoso autônomo, representado pelos sistemas simpático e parassimpático: o primeiro é responsável pela produção granulócitos (de pouca ação viral e mais bactericida) e o segundo de linfócitos (de ação antiviral direta). Devido à agitação da vida moderna e ao estresse, as pessoas apresentam um excesso de atividade do sistema simpático (que produz adrenalina, cortisol, etc.., todos imunodepressores), com maior quantidade de granulócitos do que linfócitos, o que abre o caminho para viroses. É devido a isso que muitas pessoas adquirem uma gripe depois de um impacto emocional, notícia ruim, desavenças, tristezas, etc. É necessário proceder à redução da atividade simpática (redução do estresse,etc.) e promover maior estímulo parassimpático. Isso se consegue com mais repouso, menos agitação e preocupações, atividade física moderada, respiração profunda, alimentação natural integral, massagens terapêuticas, saunas, banhos quentes (tipo ofurô, banheiras, etc).
Importante é evitar a friagem e manter o corpo aquecido, principalmente as extremidades. A medicina ortomolecular e a fototerapia preconizam o uso de dois suplementos: a homeopatia, diferentemente da medicina farmacológica, atua estimulando a capacidade orgânica. Há uma fórmula homeopática para a preveção, tando da Influenza A (H1N1), quanto de qualquer outro tipo de gripe. Estes remédios podem ser adquiridos nas boas farmácias homeopáticas, e não fazem mal algum ou produzem efeitos colaterais. Se necessário, procurar um médico homeopata para a confecção de uma receita. Sempre importante em qualquer aspecto para uma saúde melhor.
Durante a gripe espanhola no começo do século passado, milhões de pessoas morreram, mas aqueles que lidavam com os doentes raramente contraiam o vírus. É que havia uma orientação para que o pessoal de serviço, médicos, enfermeiros, etc, usassem um saquinho de gaze com pedras de cânfora pendurados no pescoço. As emanações voláteis da cânfora esterilizam o ar em sua volte e protegem as mucosas. Então, aconselha-se a fazer o mesmo. Basta adquirir a cânfora na farmácia comum (algumas pedrinhas bastam), confeccionar uma bolsinha de gaze e pendurar no pescoço, podendo inclusive manter por dentro do vestiário, sem necessidade de deixar à mostra (se bem que o ideal é manter do lado de fora). Deve ser usado constantemente durante o contato com as pessoas. É uma boa dica para quem lida com pessoas ou trabalha em ambiente de aglomeração.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Combinações estranhas

Falando assim de repente de algumas combinações entre dois ingredientes, muita gente se assusta. Até experimentar.
Uma amiga me serviu rabanete com manteiga, bem apreciado na França, coisa que eu jamais teria tido a idéia de combinar. Estranho, mas bom.
Um casamento não mais estranho do que feijão de coco, este de origem pernambucana, que é um purê de feijão cozido e batido no liquidificador com temperos e um pouco de leite de coco. E o mais bizarro para nós, incultos de paladar com tanta coisa existente nesse mundão de Deus, é que é servido com peixe.
Na infância, via sempre minha irmã se deliciar com banana e catupiry. Até que um dia me toquei de que só poderia matar a curiosidade se abrisse a boca para experimentar. Bom também.
Um ótimo exercício para treinar o paladar é tentar imaginar o sabor das combinações com antecedência e depois prová-las para saber o quanto você é bom ou não. E com o tempo você vai ficando craque, ou, na primeira, percebe que tem o dom.
Sempre faço um desafio com os alunos, perguntando se conseguem imaginar o sabor de um pedaço de queijo parmesão. Após alguns segundos de olhos fechados, a maioria consegue. Depois peço para se lembrarem do sabor da ameixa preta. Ok. Até que vem o terceiro pedido: o de imaginar a mistura das duas coisas. Por fim, todos provam parmesão com ameixa preta, uma dupla que forma um bom petisquinho na ponta do palito.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Depois não diga que não avisei

O ano é de 2.058. Dinda procura por algo na cozinha, na velha cozinha septuagenária, mas não se lembra direito o que é. Vasculha daqui, remexe dali, coça o queixo e, ah sim, é o recipiente azul que está procurando. Nele estão guardadas as porções de chá de vitaminas complementares que o especialista em ossos lhe indicou. Caminha vagarosamente até o recipiente azul, mas abre com dificuldade, pois suas mãos agora trêmulas esqueceram-se das habilidades. Coloca uma porção no cilindro de fibra ótica reciclada e enche de líquido bioingerível aquecido. Depois, liga o reciclador de oxigênio pós-inalado. Agora Dinda não cozinha mais, mas auxilia sempre que pode a nova mescladora de substâncias alimentares:
- No meu tempo era cozinheira que chamavam...
A moça era nova, começou sem muita experiência, mas fazia bem as combinações diárias do complexo auto-sustentável, o que antes chamávamos de ingredientes.
Dinda senta-se na cadeira, com certa dificuldade pelos joelhos endurecidos, enquanto a moça mistura a pasta de batatas sintética com um pouco de gordura monocalórica em pó. Corta a embalagem de tomates desidratados e os mete de molho em uma solução de vinagre de vinho transclonado. Por fim, despeja uma medida de favas-agulhinhas - uma espécie híbrida de arroz com feijão - no processador de inchaço de grãos e cereais.
Dinda olhava com saudosismo para suas antigas panelas, que ajeitadas decoravam alguns cantos da cozinha, quando ouviu na teleplasma de nanochip as notícias do dia:
- A segunda edição do Jantar do Século aconteceu ontem, após 50 anos de sua idealização. Os filhos dos chefs que participaram do primeiro jantar executaram o cardápio para 80 pessoas, como aconteceu no evento histórico de 2008. Politicamente corretos, fizeram um banquete beneficente e reverteram a venda dos convites a núcleos sociais carentes. Mas cerca de 700 manifestantes que protestaram do lado de fora, revoltaram-se, exigindo mais uma vez que o governo providencie meios de produção natural de alimentos. Afinal de contas, os pratos oferecidos contavam com verduras e legumes raríssimos e de altíssimo valor, inacessíveis para 99% da população. Dentre eles, a exótica alface crespa e a delicada berinjela baby, cultivadas em bolhas, nas terras suspensas dos laboratórios da FGV (Fazenda Gourmet Virtual), diretamente da seção de Reprodução do Ontem. A polícia controlou o tumulto jogando bombas de odor de efeito moral.Num suspiro melancólico, Dinda, virando-se agora para a moça distraída com seus afazeres, desabafou:
- Que saudades do cheiro de terra. E da minha hortinha...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O mar em extinção

A cena mais chocante que vi num desses documentários sobre a chamada sopa de plástico existente nos oceanos, foi a de um isqueiro achado dentro da barriga de um peixe. E segundo um biólogo, eles engolem lixo marítimo porque não sabem distinguir o que podem e o que não podem comer, ou seja, mordiscam tudo o que encontram pela frente - afinal de contas estamos falando de peixes e não de cães farejadores. Mas sei que a cena que me chocou não passa de um grãozinho de areia perto da grandeza do problema da poluição dos mares. Veja no link:
http://www.youtube.com/watch?v=1Bal8FKAY04&feature=related

Alimentos em extinção

Olha, não sou garota propaganda da Época, mas ultimamente temos tido muita sorte nas matérias. Não ando dizendo que a comida está cada vez mais plástica e menos natural? Pois o texto do link abaixo nos mostra alguns dos alimentos que estão em extinção nos países em destaque. A maioria é de queijos artesanais.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI86925-15257,00-ALIMENTOS+QUE+CORREM+RISCO+DE+EXTINCAO.html

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cebola crocante em rodelas. Aos montes.

Fui liberada do almoço de Dia dos Pais pela família. Ufa! Como toda família italiana que se preze, o almoço teve a força da união: a neta fez a lasanha preferida do patriarca, com lombinho defumado no lugar do presunto. A mãe preparou de véspera, deixando curtir numa vinha d’alho, o lombo com osso, que depois foi assado durante uma eternidade. E a tia contribuiu com a saborosa salada de batatas, com muito azeite, ovos, cheiro verde e palmito – uma espécie de maionese da casa, com gosto de domingo festivo.
E o lombo assado veio acompanhado de rodelas empanadas de cebola, que há tempos não comia. Mas essas rodelas crocantes de cebola não são como as ostentosas onion rings, não. Essas são até bem feinhas, pois são bem mais finas e murcham um pouco na hora da fritura, após serem passadas na clara e depois na farinha de trigo. E demoram um pouco para dourar, mas quando isso acontece - escute, caro leitor – quando aquele monte de rodelas finas e empanadas douram na frigideira, você já começa a imaginar o “croc” da mordida e o quente adocicado da cebola na boca. Só não pode deixá-las queimar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Saiu na ÉPOCA

Nomes divertidos podem fazer crianças comerem mais vegetais. Estudo da fundação Robert Wood Johnson, nos Estados Unidos, sugere que mudar o nome de frutas, verduras e legumes faz seu consumo crescer entre as crianças. Quando "cenouras da visão raio-X" , no lugar de simples "cenouras", foram servidas no almoço de crianças em idade pré-escolar, elas comeram quase o dobro do que normalmente comiam. O resultado faz parte de uma pesquisa com 186 crianças de quatro anos que foi apresentada nesta segunda-feira (2) no encontro da Associação de Nutrição Escolar americana. Segundo o estudo, mesmo depois que o vegetal voltou a ser chamado pelo nome simples, as crianças continuaram a comer 50% a mais do que costumavam consumir. "Qualquer coisa que estimule a imaginação delas parece estimular também o apetite", disse o pesquisador Collin Payne.
O líder da pesquisa, Brian Wansink, da Cornell University, afirmou que "dar nomes legais à comida faz as crianças pensarem que vai ser mais legal comê-las". "Pode ser 'vagens do poder' ou 'árvore do brócolis dinossauro'", disse. Segundo Wansik, que é autor do livro Mindless Eating: Why we eat more than we think (Comendo sem pensar: por que comemos mais do que imaginamos), a mudança de nome causa uma expectativa diferente em relação ao alimento, o que traz uma nova experiência, mesmo que a comida seja a mesma. Essa sugestão também funcionaria com adultos. Um outro estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que, em um restaurante, quando mudaram o nome de um prato de "filé de frutos do mar" para "suculento filé de frutos do mar italiano", suas vendas cresceram 28%.
(Revista Época, mar/2009)