DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aos leitores e comilões

Aqui encerro este pacote de pensamentos. Foram três anos de sabores imaginários e reflexões incertas, fruto da capacidade que um divã tem de extrair - mas deixo bem claro que a culpa nunca foi dele.
Da cozinha continuarei querendo e esperando tudo.
Por ora, preciso me alimentar de outras palavras e não mais soprá-las virtualmente.
Cobaia de mim mesma, o Divã começou assim, mas aos poucos foram chegando os ouvintes, os leitores, os visitantes, os que me abriram janelas e os que se identificaram com esses discursos gastronômicos, cujos pesos e medidas ecoaram de alguma forma, quase um psicodrama.
Deixo agora este diário em forma de blog, que permanecerá para sempre ou enquanto a tempestuosa web durar.
Receitas novas? Anotem: escrever é cura e liberdade. Desescrever também. Outros insights têm me rondado ultimamente e, sendo assim, resolvi colocá-los todos numa mesma panela. O ponto ainda está em teste, em banho-maria ou no forno, mas é mais ou menos isso: os momentos em que estive em paz com o mundo foram os que me fizeram sentir o gostinho da lucidez.
Lembrando ainda que receita de sucesso mesmo, cada uma tem a sua, basta acertar a mão.
Agradeço com carinho a todos aqueles que por aqui passaram e à Tati, que nunca deixou passar uma vírgula sem a sua sábia opinião.

Pintura: Juarez Machado

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Santos cordeiros

Pecado ou não, da cozinha eu quero tudo! Dessa vez foi com uma longa costelinha de cordeiro. Tive que dividi-la em duas partes, desse jeito ficaria mais fácil de trabalhar. Os dois pedaços marinaram por hora e meia em suco de laranja, alho, pimenta-do-reino, sal e muitas folhas de hortelã. Depois disso, forno. E para fazer-lhes companhia, pedaços cortados de duas maçãs, espalhadas despretensiosamente pela enorme assadeira.
Após duas horas regando cada uma das partes com a própria marinada, decidi então separá-las.
Uma metade da costelinha permaneceu um pouco mais no forno, dessa vez suspendida por uma gradinha apoiada na assadeira, para que ficasse mais dourada.
A outra foi para a panela em fogo baixo com a marinada, agora coada, as maçãs já meio murchas, um cálice e um gole de vinho tinto e duas colheres de mel. Ferveu ali por meia hora, até que aquele molho apurasse um pouco mais.
A primeira saiu do forno corpulenta, forte e úmida e pelo sabor mostrou tudo o que aprendera naquelas horas em que conviveu com o caldo condimentado da laranja.
Já a segunda entregou-se por inteiro ao sedutor molho tinto, e pelo que revelou, provou daquelas maçãs.

Pintura: Josefa de Óbidos

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Celebrações

Comidas apetitosas, bebidas geladas, presentes, reflexões, promessas, cansaço. Um suspiro após a virada e parece estarmos prontos para levantar a batuta e orquestrar mais um ano que vem pela frente. E ele vem mesmo, estando nós de mangas arregaçadas ou não.
O tempo não se atrasa e não nos dá tempo. As tarefas e obrigações nos cobram, impiedosamente nos chamam de minuto em minuto.
Está em cena, permanentemente, a máquina de pensar e a máquina de executar, desde o momento em que começamos a respirar do lado de cá.
Cada descoberta, cada experiência, cada aprendizado e cada decisão, são como digitais, únicas e individuais. Um dos milagres engenhosos de Deus para mostrar-nos como somos diferentes uns dos outros, cada um com sua marca personalizada. Como as digitais, nossas escolhas ao longo da vida formam um desenho único e individual, como uma retribuição a Deus, à fantástica natureza que nos formou. Brindemos à vida!
Feliz 2011 para todos.