DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Fome de novo. E de novo. E de novo.


De repente, na frente da TV, às onze da noite, aquela vontade de comer um saco de castanhas de caju. Ou, às quatro e meia da tarde, as fritas do Mc Donald’s. Às dez da manhã um misto quente. Bem quente. No domingo cedo, a pizza do sábado à noite. E no sábado à tarde, milho verde cozido com manteiga e sal. No café da manhã, café com pão francês e água de côco gelada. Talvez presunto. No almoço, comida saborosa com muito azeite ou molho caseiro. E com cheiro de coisa assada. No jantar, comida quente com gosto de queijo. Hummmm...
Forrar o estômago com prazer é tarefa difícil. É sofrido. Estamos sempre à mercê da fome ou dos prazeres do paladar (em minha modesta opinião, é ele quem manda 99% das vezes - e sobrepõe a fome).
Feliz de quem pode. E quem não pode, pede. Pede moedas, restos, sobras, aparas, migalhas, balas, bitucas de cigarro, água de mangueira, lixo, qualquer coisa que possa entrar pela boca, direta ou indiretamente.
“Moça, tem alguma coisa? Preciso comprar leite pro meu neném...”
De repente, na frente da TV, às onze da noite, aquela vontade de comer um saco de castanhas de caju. Ou, às quatro e meia da tarde, as fritas do Mc Donald’s. Às dez da manhã...

Etc.


Foto: Regina Bui

sábado, 23 de agosto de 2008

Fome de vencer II

Um adendo ao post anterior.
Muito apropriadas as palavras do grande poeta alemão Friedrich Hölderlin, que já no século XVIII conhecia os apelos dos marqueteiros. Um poeminha para sobremesa:
FALSA POPULARIDADE
Que conhecedor dos homens! Faz-se criança com as crianças,
Mas a árvore e a criança buscam o que é mais alto do que elas.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Fome de vencer

Agora é momento de rever a clássica cena dos candidatos freqüentarem restaurantes e pizzarias com toda a família. Durante o dia os banquetes acontecem nos botecos e nas feiras, acompanhados de suas equipes de campanha. E mandam ver nas coxinhas fritas, nos ovos cor-de-rosa, nas salsichas empanadas, no torresmão, nos vinagretes e nas pimentas em conserva. Tem também a excursão na periferia, onde finalizam as refeições entre cafezinhos e promessas.
Um certo cidadão, na época candidato a governador, passeava pelas favelas em pleno horário de almoço ou jantar e aceitava a todos os humildes convites para se sentar nas humildes mesas e participar das humildes refeições em meio as humildes famílias. Após algumas horas de encenação, partia com a equipe, mas antes mesmo de chegar em sua residência, concluía seu trabalho no primeiro matagal deserto que encontrasse pelo caminho. Num ato de bulimia (vamos dizer assim), esvaziava o estômago. Talvez para que as pizzadas familiares coubessem minutos depois (vamos acreditar assim).

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sonho de consumo

(abra o link e faça um giro 360ª
é só clicar e movimentar o mouse)

Eu posso, tu podes, ele não pode

Eric Jacquin, numa brincadeira séria, fez um prato com foie gras, vinho southern, redução de Coca-Cola e pipocas, surpreendentemente perfeito, a ponto de senhores de gravata tirarem o chapéu na porta de sua cozinha.
Alexandre Herchcovitch saberia fazer um conjunto de calça xadrez e blusinha de bolas com echarpe purpurinada, se lhe lançassem o desafio.
Agora, o Jamie Oliver... o que você acha, caro leitor blogueiro, de um molho feito com creme de leite, azeite de oliva e feijão branco, amassados, para acompanhar um peixe no papillote?

domingo, 10 de agosto de 2008

Ali também há espinhos

A carne mole
Cozida e esfriada
Fina
Gostosa
Apagada
Frágil
Ingênua
Uma a uma
Inocente
Como pecado de padre

De repente um caminho
Inesperado
O fundo
Quase falso
Depois dos espinhos
Moles
Cozidos e esfriados
Finos
Gostosos
Apagados
Frágeis
Ingênuos
Um a um
Inocentes
Como pecados de padres

Após espinhos
O fundo

Assim são alcachofras
De carne mole
Cozidas e esfriadas
Finas
Gostosas
Apagadas
Frágeis
Ingênuas
O fundo
Verdadeiro
Após espinhos
Moles

(Cozidos e esfriados
Como pecados de padres)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Visões gastronômicas


“Olhei e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, e uma grande nuvem com fogo a revolver-se, e resplendor ao redor dela, e no meio disto uma cousa como metal brilhante que saía do meio do fogo...” Ez 1: 4
Gosto muito da maneira como Ezequiel descreve suas estranhas visões e acho a linguagem muito apropriada para tal.
Do mundo das cozinhas e restaurantes carrego na memória lembranças curiosas para contar aos meus sobrinhos-netos e, inspirada no profeta bíblico, assim as descreverei:

“Vi um doce de jiló num restaurante semi-falido, cuja conservação em sua própria calda lembrava-me as experiências de Jerry Lewis na pele do Professor Aloprado. O corante verde que o maquiava era semelhante ao césio-137 goiano, o que contribuía ainda mais para caracterizá-lo como uma sobremesa patriota”
“Descreveu orgulhosamente um comensal sua experiência de provar um spaghetti com tomate e, pasmem: sagu. Justificou-me imediatamente, diante de minha cara de irônico espanto, que as bolinhas cozidas serviam para dar consistência e espessura ao molho”

“Confessou-me sem constrangimento uma prima recém-casada que pensou que o arroz ficasse pronto como o milho de pipoca – estourando em óleo quente. Concluiu seu equívoco assim que a panela se incendiou”

“Recomendou-me secretamente uma ajudante, que nunca usasse Band-Aid caso cortasse meus dedos, pois esta mesma perdera o curativo em plena atividade na cozinha de um restaurante onde trabalhou e, de tanto rezar, felizmente não recebeu reclamação alguma de clientes naquela noite, e não comprometeu assim, a reputação do estabelecimento e também o seu emprego”



Foto: Regina Bui

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Stomp in the kitchen

E para encerrar a sessão Youtube, um vídeo do Stomp que, para quem conhece, não se trata de um bando de loucos.

http://www.youtube.com/watch?v=XXD76CSpfc0