DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

sexta-feira, 6 de março de 2009

O lado ruim

Nunca, jamais, never, em hipótese alguma sou convidada para um jantar sem que as pessoas queiram saber minha opinião sobre o prato. Mesmo que eu diga que está bom, ótimo ou excelente, sempre vem aquela perguntinha: mas você está dizendo só pra agradar ou está bom de verdade?
Quando festas em família se aproximam começam a questionar: o que é que você vai preparar? Vou levar esfihas do Habib’s!
E como é que você pode caber em suas próprias roupas tendo uma profissão destas? Dieta, dieta, dieta e dieta.
As mãos são as que mais sofrem. Vivem detonadas e devem ser as mais lindas da face da Terra. Todo mundo olha pra sua mão quando você trabalha com comida. Já reparou alguma vez em mão de açougueiro e ou peixeiro? Então preste atenção. Mas homem pode ter mãos e unhas nojentas porque ninguém dá a mínima, mulher não!
Nos eventos sinto a espinha arrepiar quando alguém que não seja da equipe entra na cozinha todo sorridente. Você tem duzentas pessoas pra alimentar na festa, vinte garçons entrando e saindo equilibrando bandejas na mão, quinze ajudantes na cozinha trabalhando a todo vapor em linha de produção e essa pessoa sorridente, com uma taça de vinho na mão, começa contar uma receita que aprendeu com a avó, que era húngara... Ah, tá, que legal – João, pegue aquele patê ali por favor? E vai muita páprica? Fernando, o garçon está pedindo mais canapés de salmão. Ah, você faz essa receita todo Natal? Dona Maria, quebrou uma taça no salão, a senhora pode recolher por gentileza? E o pessoal gosta? Alaor, peça para o maitre vir aqui. Nossa, sua avó devia cozinhar bem, né?
Por acaso você fica contando sobre as receitas de sua avó para o caixa do banco, quando tem meia dúzia de gente atrás de você?
Para completar o conforto do cenário todo só faltava uma música do mala do Jairzinho, do chato do Jorge Vercilo ou do xarope do Pedro Mariano. Se a Elis fosse viva jamais teria deixado o menino gravar. Mas porque é que estou dizendo isso? Vamos focar no assunto. Já fiquei nervosa porque esse texto está maior do que o anterior.
Enfim, às vezes, a tolerância é zero!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nada, Regina, ta claro que o lado bom é muito maior!
A primeira coisa que eu admiro numa pessoa, é o com-pro-me-ti-men-to.
Supermegahiperapertado abraço
Ita

Regina Bui disse...

Ita,
o lado bom mesmo é que o lado ruim só aparece de vez em quando.
O lado ruim, de verdade, é que quando ele aparece nos transforma em pessoas babacas.
Outro mega!