DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

domingo, 15 de março de 2009

Gosto não se discute

Paladar também não. E não existe coisa mais impossível do que acertar na quantidade certa de sal. Sempre terá aqueles que pedem o saleiro. Outros respeitam a dosagem sensata dos chefs.
Pimenta é outra polêmica. Uma vez, uma mexicana que ia ensinar alguns pratos típicos para os alunos, me pediu que comprasse todas as pimentas que eu pudesse para que ela experimentasse, e assim escolher as que mais se adequassem com aquelas usadas em seu país. Cheguei com várias bandejinhas, de tipos, cores e tamanhos diversos. E não é que ela experimentou uma por uma, do mesmo jeito que a gente come chocolate na frente da tela do cinema? Mexicanos e baianos que se entendam!
Mas há ainda aqueles que gostam das mesclas tecnicamente incorretas, como molhos e temperos misturados por pura aventura (o que é válido), que deixariam qualquer paladar apurado em estado de choque.
No Rio e em algumas cidades do Nordeste, a pizza leva catchup. Questão de cultura para uns e verdadeiro gastrocídio para outros.
Meu cunhado, por exemplo, não gosta de carne bem passada. Ele gosta de carne praticamente torrada. Já disse que vou trocar sua churrasqueira por um incinerador.
Como acontece também na moda, meu amigo e estilista Léo Sodini compartilhou quando lhe perguntei o que achava do tema-título deste texto:
"Na moda, assim como na gastronomia ou na decoração, posso afirmar que se precisa de senso estético e equilíbrio de cores, temperos no ponto certo, volumes estudados, pesquisa, muita pesquisa, um certo revival - me desculpem os simplistas, mas na vida, sem esses caprichos, como ficaríamos, hein ? Enfim, sei não.
A paixão pela moda e por lautas refeições está diretamente ligada à figura da querida e viva mamma, que costurava sempre (e ainda costura) com bastante habilidade, alternando a função com outra arte, a do forno e fogão, testando e cozinhando iguarias que ainda guardo na memória olfativa e palatar!
O mesmo com suas roupas e todo aquele fascínio por tecidos, aviamentos, cores e modelagens, verdadeiros temperos, uns mais picantes, outros adocicados, ordenados pelos ditames da estação.
Lembro-me perfeitamente quando, na década de 70, minha mãe colocou na mesa uma travessa caprichada com uma salada de grãos de soja, bem temperada com pimentões, as três cores dos pimentões e salsinha, regada ao verde azeite. Uma delícia que aprovamos, e foi certamente, mais uma fonte de energia para essa família de italianos. Grande novidade na época, a salada de soja!
Mas o que seria do verde se todos gostassem do amarelo?
Em casa, a paixão é pelo azul, azul e branco, como na composição das louças de Monte Sião, e quero adiantar nesse breve relato que não existe uma cor certa em uma estação ou um modelito que vai causar: o que realmente impressiona é a qualidade e otimização de recursos para que sua produção esteja garantindo seu bem-estar, conforto, e charme, claro.
Realmente gosto não se discute para nada nesta vida: desconfio de quem afirma grandiloquente sobre uma tendência, uma maneira de vestir, etc.
Vivemos uma era de não-tendências e você provavelmente já deve ter atentado para isso!
Tamanho número de tribos, multiculturas, pluralidade de ideologias, fatores sócio-econômicos, vixe, novos formatos sociais que bem embalam o sonho de estar vivo.
Adoro o espelho nesta hora, e alguma fonte de informação confiável!
Adoro observar um blog, com licença Regina, sobre gente de rua em tempo real, que se veste para si e no que acredita.
Amantes da cena fashion street, anotem aí: vale a pena seguir as fotos de Scott Schumann, o todo poderoso fotógrafo que circula pelo planeta atrás do melhor look:
thesartorialist.blogspot.com.
Existe uma única dica: respeitem seu biotipo e reconheçam a cor que os favoreça, colocando a cor escolhida na altura do seu queixo e observando o quanto essa cor ilumina seu semblante e se há reciprocidade. Em outras palavras, se a cor casa com você!
O mesmo de queijo e fruta, apreciado no mundo todo; no Brasil o popular romeu e julieta, no formato de queijo de Minas e goiabada, e por aí vai: orégano sobre molho de tomate, alho-poró no purê de mandioquinha, leite de côco e gengibre na receita thai."

Um beijo saboroso, Regina
Léo

4 comentários:

Ita Andrade disse...

Que fera esse Léo, heim Regina?!
Adorei!

Regina Bui disse...

Fera??? Da missa vc não sabe nem metade! Qualquer dia eu arrasto ele pra Paraty e vc vai ver...

Denise disse...

Apaixonei.
vc conhece mesmo gente boa.
bjs
Denise

Regina Bui disse...

Tá vendo, Léo? Agora vou ter que contar sobre o bombom salgado que vc inventou...