DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Banquete I

Nenhuma novidade no comportamento humano desde que o mundo é mundo. E o exibicionismo já pode morrer de velho. No século I a.C., os gregos, e depois os romanos, faziam dos banquetes verdadeiros espetáculos. As refeições eram servidas da maneira mais extravagante possível. Os convidados eram recebidos pelos escravos para a lavagem dos pés com água e óleos aromáticos, e depois acomodados em seus lugares para o início do serviço. Comiam com a apresentação de malabaristas, poetas, cantores, músicos, anões, dançarinos, gladiadores e decapitadores. Anfitriões e nobres convidados ficavam reclinados em divãs, pois ainda não existia o hábito de se sentar à mesa para comer. Em relação aos pratos servidos, quanto mais diferentes e bizarros eram, maior riqueza o império mostrava. Tudo isso denotava a diferença das classes sociais daquela época.
O livro Banquete de Roy Strong relata que “o Imperador Heliogábalo, por exemplo, realizava exibições maciças de pratarias(...) e servia aos convidados iguarias exóticas como: pés de camelo, cristas de galinha, pavões vivos e línguas de rouxinóis. Vastas travessas cheias de fígados de tainha, miolos de tordos e de flamingos, cabeças de papagaio, faisões e pavões(...) enquanto mecanismos suspensos despejavam sobre os comensais violetas e outras flores em tal quantidade que algumas vezes os convidados ficavam sufocados.”Mesmo diante de tanta pompa, segundo o livro, nada se comparava, “em matéria de luxo, a um único prato imenso que o Imperador Vitélio dedicou à deusa Minerva e que chamou de ‘Escudo de Minerva, a Protetora da Cidade.’ A receita incluía fígado de lúcio, miolo de pavão, língua de flamingo e vesícula de lampreia; e os ingredientes, reunidos de todos os cantos do Império, da fronteira de Pártia aos estreitos da Espanha, foram levados a Roma por capitães das trirremes.”E ainda revela pratos como “papa-figos, isto é, passarinhos minúsculos com gemas de ovo derramadas por cima.”O anfitrião Trimálquio batia na mulher, era especulador de alimentos, fanfarrão e beberrão. Numa de suas festas, continua Roy, “escravos trazem uma grande travessa com uma cesta contendo uma galinha de madeira com asas estendidas, no ato de pôr ovos. Ao som ensurdecedor da música, os escravos pegam na palha, debaixo da galinha, grandes ovos pesando 250 gramas, feitos de farinha de trigo e fritos em óleo. Os ovos são distribuídos entre os convidados que, ao abri-los, encontram passarinhos enrolados em gema de ovo temperada.”Na Idade das Trevas, “a ciência dietética de Antimo já havia recomendado a carne, produto básico da dieta bárbara, como essencial para a força física(...) Inevitavelmente, portanto, a carne(...) passou a ser encarada como um atributo de poder e comando. A divisão entre uma classe alta que comia carne e uma classe de camponeses a quem a carne era negada tornou-se ainda mais marcante nos séculos X e XI, quando os proprietários de terras conquistaram novos poderes administrativos e judiciais. Eles usaram essas prerrogativas para promulgar legislações que excluíam cada vez mais as classes camponesas de qualquer acesso à carne selvagem, por meio da imposição de leis restritivas de caça.”

3 comentários:

Denise disse...

me deu vontade virar vegetariana. ugh.

Alexandre Roqueti disse...

Olá Regina, lendo teu texto vi um material que preciso estudar e não consigo achar nada referente a esse assunto, gostaria de saber se tens alguma noção se a língua do flamingo ainda é usada na gastronomia em tempos atuais.

Regina Bui disse...

Oi Alexandre,
que eu saiba, apenas língua de pato ainda é usada na culinária asiática e você pode encontrá-la no Mercado Municipal de São Paulo.