DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Comida mineira (senta, que lá vem história!)

Vivem me perguntando por que não votei em nenhum restaurante da categoria Cozinha Regional na última edição da Vejinha Gastronomia. Tinha como única opção considerar os de cozinha mineira, já que temos aqui em Campinas tantos deles.

Pra começar, comida mineira é muito simples de fazer, basta uma boa mão. Mas o difícil é apresentá-la na mesa de uma forma convidativa. Por ser gordurosa e ensopada demais, acaba não tendo uma aparência das melhores, embora saibamos que é super saborosa.

Tenho como referência de restaurante mineiro o Dona Lucinha, de Belo Horizonte e São Paulo. Perfeito em apresentação e ambiente. Visitei vários restaurantes de Campinas em busca de um padrão semelhante.

No primeiro, situado num local próximo de rio e mato, havia muitos insetos e então me deparei com a maneira mais original de separar os bichos da comida: uma cortina de véu ao redor da mesa. Imagine a situação. Você se serve de um purê, por exemplo, e a colher cheia esbarra nesse véu, no trajeto da travessa até o prato. São várias travessas e várias colheradas, num vai e vem totalmente desconfortável, sem prazer algum, até você acabar de se servir. Dá vontade de comer?

Num outro restaurante, o ambiente era muito escuro. A iluminação fraca, o teto baixo, o telhado aparente e empoeirado, e panelas e travessas de ferro preto sobre um fogão de lenha, deixando-o muito sombrio. Enfim, não sei se era estratégia, mas faria qualquer um se sentir numa verdadeira orgia gastronômica, do tipo dark room: você não sabe nem o que pega e nem o que come.

Outro ainda me poupou de ir visitá-lo quando estava a caminho. Sim, foi uma verdadeira bênção. Parei num semáforo próximo quando um garoto me entregou o folheto de propaganda do restaurante. Olhei atenta a foto da orgulhosa e vasta mesa com as travessas de comida expostas. Vi lá: couve, mandioca, polenta, bisteca, torresmo, sushi... SUSHI!!! Meu Deus do céu. Pai das alturas. Cuida dos meus pensamentos. Cale minha boca. E trave este teclado.

São os detalhes que fazem toda a diferença. Os detalhes que parecem insignificantes fazem de um lugar um sucesso ou o verdadeiro fracasso.
Nunca me esqueço do dia em que questionei o proprietário daquele restaurante do cachorrinho (o do texto abaixo), sobre alguns problemas que ocorriam. Ele me fixou com o olhar mais sábio e introspectivo do mundo e, levantando o dedo e a voz, discursou, igualzinho Odorico Paraguaçu: “meu restaurante está lotado, em time que está vencendo não se põe a mão...” Imediatamente entrei em transe. Trombetas soaram e depois disso vi o Mar Vermelho se abrir para ele passar. Junto com o cachorrinho. Só para conhecimento do leitor blogueiro, o restaurante não durou mais 6 meses...

Voltando a falar dos mineiros, o problema é que todos os restaurantes ficam preocupados em caracterizar ao máximo o ambiente, e a decoração fica lá, olhando pra gente e a gente pra ela: chapéu de palha, berrante, arame farpado, inchada, saci (que nem faz parte do folclore mineiro), cabeça de boi, santinhos de altar, fumo de corda, réstias de alho penduradas e a pinga com canela na entrada. E deixam a apresentação e cuidados com a comida a desejar, logo ela, que é a estrela principal.

Ô genti, vô falá procêis, si ocêis mi permiti: num dá procêis abri um restauranti normal, sem bizarrici, sem teidiarânha, sem lagartixa nu tétu, sem véu di noiva na mesa, sem curupira, sem sushi, sem parede suja, e não assim, sem carinho (sem coberta, no tapete, atrás da porta, reclamei, baixinho...). Afinardiconta, tamu falandicumida e não di cenário, uai...

2 comentários:

Anônimo disse...

Rê,
vanmos abrir um?

Regina Bui disse...

você cuida da cozinha e eu da decoração!