DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

sexta-feira, 11 de abril de 2008

E no dia do Juízo Final...

Das sete filas, a do Pecado da Gula é a mais animada. Obesos, vítimas do colesterol, alguns alcoólatras e seus médicos se reencontram com alegria. Gastrônomos, enólogos, glutões e os padres que os perdoaram também. Os advogados não sabem se a acusação se deve ao exagero da quantidade de comilanças ou ao extasiante prazer da degustação. Os músicos compõe já os primeiros acordes de uma “sonata para um banquete celestial.” Na recepção, a placa trazida por alguém: “BEM-VINDOS À NOVA CONFRARIA”. Os gourmets esperam com expectativa pelas novas instalações e não entendem direito por que é que precisam esperar por uma sentença. Céu ou inferno, seja onde for, há de ter uma cozinha! Ninguém se sente envergonhado ou arrependido em fazer parte desta fila. Aliás, a questão é: por que é que estão ali entre as filas da Inveja e da Ira? Por que é que os equiparam com aquelas figuras cabisbaixas e amargas? A dúvida pairava entre os ansiosos comensais. Tocada a trombeta, é chegada a hora dos pecadores da fila da Gula, última a ser chamada. Todos silenciam, se organizam, apagam os charutos e ajeitam suas malas.
Deus aparece em seu trono, resplandecente, como a luz da alvorada.
O primeiro da fila, com muita cautela, ousa perguntar:
- Senhor, faremos nós também, a multiplicação dos pães? Transformaremos água em vinho?
- Certamente! E não teriam outra opção, pois, o Diabo rejeitou vocês, e agora só há vagas na cozinha mesmo.

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