DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Maçã

Nasceu com a polpa para o lado de fora e as sementes enfeitavam a superfície farinhenta, adocicada e azeda como é a consistência da maçã. Por dentro o crocante da casca se quebraria ao encontro dos dentes. Nada mais.
Ingênua, foi arrancada do pé imatura e chamou a atenção do mundo, de vidro em vidro, de mão em mão, de teste em teste, de opinião em opinião, de foto em foto. Reviraram tanto a maçã, que da casca fizeram polpa e da polpa fizeram casca, porém nada se descobriu.
Descontentes, arrancaram a macieira, que chamou a atenção do mundo, de vidro em vidro, de mão em mão, de teste em teste, de opinião em opinião, de foto em foto. Reviraram a macieira, que dos galhos fizeram tronco e do tronco fizeram galhos, porém nada se descobriu.
Descontentes, arrancaram toda a terra que rodeava a macieira, que chamou a atenção do mundo, de vidro em vidro, de mão em mão, de teste em teste, de opinião em opinião, de foto em foto. Reviraram a terra toda como permite as ferramentas da ciência, porém nada se descobriu. A partir daí ninguém mais se pronunciou. Só haviam se esquecido de revirar os céus. O tempo da maçã passou, apodreceu, nem degustada foi.

Um comentário:

Ita Andrade disse...

A diferença é o que salva esse mundo do tédio absoluto. Eu amo a diversidade, o inesperado e o inexplicável.
Quase morri de tanto gostar dessa "maçã".