DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

domingo, 26 de julho de 2009

A berinjela

Torta como era, desencaixada e fora de padrão das demais, sentia-se o patinho feio da espécie, com a desesperança de que sabia que não pertencia à uma outra. Insatisfeita, afeiçoava-se às bananas: se era tão curva e magra, por que é que não fazia parte daquele grupo? Mas existem escolhas que a vida não nos dá. E cresceu infeliz como tinha de ser, como faz a aflição dos excluídos. Um dia foi comprada com mais cinco e pela primeira vez sentiu-se desejada. Não era a primeira vez que a notavam, isso até em exagero, desde sempre. Mas agora era desejo de vontade, desejo salivado. Depois de confinadas e tratadas de igual modo por uma força maior, viraram cubos, centenas deles do mesmo tamanho sobre a tábua. Embaralharam-se. E viraram uma coisa única na panela, elas cortadas em formas iguais, como o universo e seus fragmentos mais invisíveis fazendo parte de uma consciência divina. Se soubesse que ia parar no mesmo lugar que as outras, não teria a berinjela deixado de olhar a vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

"Se soubesse que ia parar no mesmo lugar que as outras, não teria a berinjela deixado de olhar a vida."


....poxa, tadinha! rs
estava esperando no fínal uma receita maravilhosa,,,rs rs
...ísto que é uma boa divagação,,,rs
bjssssss
mineira

L. disse...

que lindo!!! e logo hj que comi berinjela.... bj

Ita Andrade disse...

Enquanto não provo de outras delícias suas, vou aqui saboreando estas que nos oferece tão generosamente.
um abraço dos meus