DISCURSOS GASTRONÔMICOS E MACARRÔNICOS

terça-feira, 30 de março de 2010

Que Amélia é essa?

Amélia picava cebola e chorava. E também chorava porque picava a cebola. Não se dava ao luxo de fechar os olhos, nem sabia o que era ter um luxo. Não achava poesia em não ter o que comer - poesia ela sabia o que era. A cebola ardia nos olhos, enquanto a dor gerava uma nascente de águas salgadas, que brotavam, parecia, do coração, separavam-se nos canais lacrimais e encontravam-se novamente do lado de fora, bem na curvinha do seu queixo. Sabia que tudo passava e que tudo continuava, como os dias, as semanas, os anos. Mas sonhava com um fim. O início não importava, não fazia parte de nenhuma história.
Seu único consolo, lembrava frequentemente, é que as heroínas das histórias que conheceu não escaparam de sofrimento algum. Foram condenadas por coragem, persistência, indignação ou sensibilidade. Então entendia que a vida tem um preço e um valor; que a vida se paga com a própria vida. Prato do dia: arroz com cebola.

2 comentários:

Anita disse...

Dizer que esta chorando porque esta picando cebola pode ser um bom pretexto para soltar e lavar as tristezas.

Regina Bui disse...

Não é ótimo pra gente poder se enganar? ahahaha